Festival Nacional de Cinema colocou Santa Rita na rota dos grandes eventos da sétima arteCleber Octaviano
Especial para a GazetaVisionários como Jaime Nori, Wladimir de Freitas e Paulo Paixão realizaram, em 1966, uma façanha que pode ser considerada como impossível nos dias atuais. O Festival Nacional de Cinema de Santa Rita do Passa Quatro trouxe a cidade e premiou grandes nomes do mundo artístico brasileiro. Muitos são até hoje grandes estrelas como os globais Eva Wilma e John Herbert, por exemplo.
O evento, uma realização do então Departamento de Turismo e Assistência Social, dirigido Wladimir de Freitas, o Filhinho, aconteceu de 15 a 18 de julho de 1966, e foi um marco histórico para o município. Porém, sua realização foi quase esquecida por historiadores do cinema nacional (vide matéria no caderno Mais, edição 1559, de 5 de março de 2008, da Gazeta de Santa Rita). Mas se o Brasil esqueceu, os habitantes de Santa Rita, não. E "nosso" festival continua vivo na memória de muitos santarritenses.
O principal prêmio do evento foi o troféu "Tico-tico", nas categorias ouro, prata e bronze. Nos dias de festival, foram exibidos quatro filmes inéditos e uma retrospectiva com até oito filmes, todos no extinto Cine Mirella.
Segundo publicado no jornal "O Santarritense" da época, estiveram em Santa Rita os atores e atrizes Norma Bengell, Rejane Medeiros, Eva Rodrigues, Alberto Ruschel, Luigi Picchi, Mazzaropi, Eva Wilma, John Herbert, Leonardo Villar, Milton Ribeiro, Aurora Duarte, entre outros, além do então governador do Estado de São Paulo, Laudo Natel.
Entre os filmes exibidos estiveram: o documentário "Silêncio Branco", sobre o Papa Paulo VI; "Meu Japão Brasileiro", com a presença de Mazzaropi, e "Entre o Amor e o Cangaço", com a presença da atriz Rejane Medeiros. O longa "Da Terra Nasce o Ódio", totalmente rodado em Santa Rita, também foi exibido no mesmo dia que "O Santo Milagroso", que contou com a presença de todo o elenco, além do ator Leonardo Villar.
O evento também contou com coquetel à beira da piscina na AASR e baile no Delta Clube, além de uma recepção na Fazenda Itatiaia, de Alciro Ribeiro Meirelles, o Ciróca.
Em Sessão de gala no Cine Mirella, aconteceu a entrega dos prêmios e presença de todos os artistas.
Os prêmios "Tico-tico de ouro" foram para: "Santo Padroeiro" (melhor filme); Osavldo Massoíne (melhor produtor); Leonardo Villar (melhor ator em "O Santo Milagroso" e "A Hora e a Vez de Augusto Matraga"); Vera Viana (melhor atriz em "Toda Donzela Tem Um Pai Que É Uma Fera"); Luís Sérgio Person (Melhor diretor em "São Paulo S/A"); Roberto Ferreira (melhor coadjuvante masculino); Rosana Tapajós (atriz revelação); Mazzaropi (campeão de popularidade); Mônica See (prêmio especial). Também receberam o prêmio maior: Ruy Santos e Irmã Alvarez, respectivamente produtor e estrela do filme "Onde a Terra Começa", lançado em avant-première, durante o festival.
Os "Tico-tico de prata" foram para: Adolfo Cruz, Hermantino Coelho Gerbellotti, Dionísio Azevedo, Carlos Coimbra e Ruy Presser Bello.
Como prêmio em dinheiro, o então Banco da Lavoura Comércio S/A ofertou um cheque de Cr$ 500.000,00 (quinhentos mil cruzeiros) para Leonardo Villar e outro para Eva Wilma.
Diplomas especiais foram entregues para Norma Bengell (rainha do cinema brasileiro); Irmã Alvarez (rainha do festival); Brigitte Darling (rainha da ribalta). Eva Rodrigues (rainha da simpatia), Joaquim Menezes (o pioneiro dos festivais de cinema brasileiros); Almeida Salles (presidente da Cinemateca Brasileira) e Celeste Aída (pelos seus 28 anos de atriz).
O júri do festival foi composto por: brigadeiro Rui Presser Bello, superintendente do Sindicato Nacional dos Produtores de Cinema, como presidente do corpo de jurados; Adolfo Cruz, jornalista da Radio o Nacional e da TV Rio; Avelino Sobrinho, jornalista da Rádio Itatiaia e da TV de Belo Horizonte; Edmo Prossard, poeta e jornalista da revista "O Lince", de Juiz de Fora (MG); Hermantino Coelho, do Sindicato das Empresas Distribuidoras Cinematográficas da Capital; Ironildes Rodrigues, cronista especializado em cdinema; Gerbellotti, repórter especializado, Joaquim Menezes, precursor dos festivais de cinema e "rei" do carnaval carioca; Jaime Nori, representando a Cinematográfica Santa-Ritense; Maurício Morey, ator do filme "Da Terra Nasce o Ódio"; Paulo Paixão - Coordenador do Festival e escritor, jornalista especializado em assunto de cinema.
A grande imprensa também esteve presente, com jornalistas de peso como Fernando Hossepian, Heitor Augusto Rigo, Orlando Fassoni e Gilberto Di Pierro. Há informações ainda que o evento teve cobertura das revistas "O Cruzeiro" e "Manchete".
Curiosidade
Na edição de nº 4, de 17/07/1966, o jornal "O Santarritense" afirma que, em sessão do dia 6 de julho de 1966 a Câmara Municipal de Santa Rita do Passa Quatro, aprovou a propositura concedendo o "título de cidadão santarritense" a Vinícius de Moraes. A matéria publicada na época afirma que o poeta, autor de clássicos da literatura e música brasileira, esteve na cidade para o festival.